Dicas de segurança em apps de encontro para gays
Os apps de encontro aumentaram muito em popularidade e em número na última década. Esses aplicativos se tornaram ainda mais populares após o surto da pandemia. No entanto, a crescente popularidade dos aplicativos de namoro criou riscos de segurança para os usuários, principalmente para indivíduos da nossa comunidade LGBTI+. Dois dos primeiros aplicativos de namoro se originaram na comunidade gay e, desde então, os aplicativos de namoro se expandiram para fornecer a todos os membros da comunidade uma nova maneira de conhecer pessoas.
Pessoas da comunidade LGBTI+, especialmente aqueles que vivem em cidades ou regiões mais conservadoras ou intolerantes, podem sentir que os aplicativos de namoro são o único caminho seguro para conhecer pessoas, contribuindo para a popularidade dos apps.
No entanto, esses aplicativos podem representar uma ameaça à segurança para nós, já que indivíduos anti-LGBTI+ ou mesmo pessoas má-intencionadas podem explorar serviços de localização desses apps ou das situações de encontro para assediar, roubar e até mesmo nos agredir.
Por isso, no artigo de hoje, vamos dar dicas de segurança em apps de encontro, mais focados na comunidade gay e os problemas que enfrentamos.
Entendendo os riscos de apps de encontros.
Antes de abordar quais são as medidas que podemos tomar, é importante entender quais são os riscos. Frequentemente o que mais pensamos é a questão do compartilhamento da localização, exposição de fotos (não à toa, muitos de nós têm receio de mostrar o rosto nesses apps) e, claro, a situação do encontro na sua própria casa. Contudo, os apps representam outros riscos também. Para criar melhor esse artigo, nos inspiramos num artigo em inglês da Kapersky que fez um relatório com 9 aplicativos – contudo, a maioria é hétero.
1) Segurança de dados.
A primeira questão que o relatório da Kapersky se foca é justamente como o aplicativo, falando em termos tecnológicos mesmo, lida com suas informações. Apps requerem informações de redes sociais, localização e existe o próprio conteúdo das mensagens. É importante que eles tomem medidas de segurança em apps para proteger as suas informações, a do seu perfil, do seu celular, das pessoas com quem você conversa e, claro, com outros aplicativos que você possa conectar à sua conta (como integrações com Facebook, Instagram e Spotify, por exemplo).
Os apps de encontro não eram muito conhecidos por medidas robustas de segurança, mas isso tem mudado mediante a pressão das pessoas e órgãos de segurança cibernética. Não encontramos um relatório acerca da privacidade e segurança em apps especificamente voltados à população gay, como Grindr ou Hornet, o relatório da Kapersky comenta que em termos de criptografia de mensagem, todos os apps usavam criptografia HTTPS (que é mais elevada). Contudo, existem algumas notícias sobre como usuários do Grindr podem encontrar sua localização (2018) e compartilhar suas informações de saúde (2021) com empresas.
2) Exposição pessoal.
Uma preocupação muito frequente na comunidade LGBTI+ é a sua exposição pessoal. Queremos ter frequentemente o controle sobre quem sabe que somos gays e, claro, existe toda a questão de você ver seu rosto no meio de um monte de partes de corpos. Para muitos, isso causa um desconforto.
Aí, temos dois vieses que você terá que escolher: a permissão do anonimato ou a obrigatoriedade do rosto. O Grindr é conhecido por permitir perfis anônimos, o que visa a segurança e conforto das pessoas que se sentem desconfortáveis em sair do armário. Já a segunda perspectiva toca mais em apps que tornam o envio de fotos algo mandatório. O Tinder, por exemplo, possui até um sistema de verificação para assegurar que aquela é sua foto mesmo, e não um fake.
Não existe uma regra. Diferentemente da comunidade hétero, as pessoas LGBTI+ enfrentam outros desafios que tornam a exposição um tema sensível. A questão é você saber onde está pisando e fazer suas escolhas. Lembre-se: ninguém é obrigado a sair do armário, afinal, cada pessoa tem seu momento.
Outra preocupação muito comum é relativa ao conteúdo das mensagens trocadas e, claro, as fotos compartilhadas. Já entrando nas medidas de prevenção, sempre cuide para somente se expor nesse sentido quando souber com quem está falando, principalmente antes de mandar fotos íntimas com o rosto, ou expôr preferências sexuais mais… avançadas que você pode se arrepender se vazar para outras pessoas.
3) Segurança física.
Por fim, mas não menos importante, apps de relacionamento têm casos expostos de violência e diversos abusos, indo da insistência constrangedora e agressão mesmo. Encontrar-se com desconhecidos é uma prática comum e não vamos dizer para não fazê-lo, afinal, é a forma de conhecer novas pessoas, mas você deverá tomar seus cuidados.
Dicas de segurança em apps de encontro para gays.
Portanto, vamos agora às dicas que você poderá e deverá tomar enquanto estiver usando apps de encontro, seja o Tinder, Grindr, Hornet ou Scruff, ou outro.
1) Tome decisão consciente de com quem conversa.
Como já falamos anteriormente, você tem que tomar a decisão de com quem está disposto a conversar. Tem gente que preza mais pela transparência e outros, pelo anonimato. No mundo LGBTI+, não dá para obrigar todos a seguirem uma cartilha sobre como eles se sentem em relação à sua segurança em apps e vida pessoal. Tem muita gente no armário, mesmo em cidades grandes como Curitiba e São Paulo, por exemplo, onde você acharia que já é seguro ser gay.
Portanto, ao se deparar com um perfil anônimo, caso você tenha sua foto de rosto, tome a decisão de continuar ou não aquela interação já sabendo dos riscos. Se uma pessoa não se sente confortável mostrando foto de rosto, você pode pedir e tem total liberdade de continuar ou não aquela interação.
Perfis anônimos oferecem um risco maior de ser algum scammer (ou fraudadores, em tradução livre, perfis usados para realizar golpes na Internet). Contudo, existe também o risco de a pessoa ser um scammer mesmo com foto ou usar foto fake, mas pelo menos você pode ter alguma referência para confrontar com perfis nas redes sociais.
2) Faça sua pesquisa sobre a pessoa.
Com a conversa inicial desenrolada, você pode descobrir o nome da pessoa ou suas redes sociais. Não hesite em jogar seu nome no Google para ver o que aparece. Os resultados batem com as informações que aquela pessoa passou sobre ela? Parece verídico pelo menos? As redes sociais podem dar muitas pistas. Tenha um pé atrás de pessoas que têm perfis vazios nas redes sociais, por exemplo, ou com um número baixíssimo de atividade nelas, como por exemplo 2 seguidores e 0 fotos publicadas. Suspeito.
3) Nunca dê informações pessoais suas.
O óbvio precisa ser dito: nunca dê informações pessoais como data de nascimento (serviços de astrologia não acontecem no Grindr), localização, nome de familiares, nome de pets e afins, ao iniciar uma conversa. Tem certas informações que você não deve passar nunca, mas vai lá: nome de cidade natal, nome de sua escola, nome de pai/mãe, seu primeiro animal de estimação, e-mail, instituição bancária que utiliza, hora que vai pro trabalho, e afins. Todas essas informações podem ser usadas por hackers para resgate de senhas em apps ou mesmo para tentar adivinhar sua senha.
Pessoas má intencionadas também poderão usar essas informações para rastrear você, conseguir entrar na sua casa e por aí vai.
4) Escolha a melhor hora antes de compartilhar informações íntimas.
Conversar em apps como Grindr, Hornet e Scruff geralmente levam a uma conversa mais apimentada. Não é incomum a gente falar de nossas preferências, mas nunca compartilhe informações que poderiam ser constrangedoras se, por exemplo, seu chefe do trabalho ou sua família ficar sabendo. Não sem antes conhecer a pessoa e muito menos num serviço de mensagens. WhatsApp por exemplo e outros, por possuírem criptografia de ponta a ponta, torna muito difícil o rastreio de quem são os destinatários e remetentes das mensagens. Isso significa mais privacidade pra você – e também para os suspeitos.
Não vamos nem falar de nudes mostrando o rosto, tatuagens, jóias ou partes de sua casa. Ao compartilhar fotos íntimas, escolha ângulos e poses que não permitam que você seja identificado de forma alguma.
5) Evite marcar encontros com desconhecidos só vocês dois (ou mais).
Ao marcar encontros rápidos ou com pessoas desconhecidas, opte primeiramente em encontrar-se num lugar movimentado. Você pode usar a desculpa de comer ou beber alguma coisa e depois ir para algum lugar mais reservado. Ou porque você gosta de trocar uma ideia antes, etc.
Importante aqui é que outras pessoas vejam vocês dois e, claro se possível dentro de estabelecimentos comerciais – já que eles tendem a ter câmeras (se não dentro, provavelmente na rua). Pessoas má intencionadas tenderão a rejeitar completamente a ideia de encontrar-se publicamente e isso deverá acender um alerta vermelho para você sobre suas intenções.
6) Não dependa do outro para o transporte.
É importante que você esteja no controle de seu próprio transporte de e para o local do encontro, para que possa sair quando quiser e não precisar depender do seu parceiro caso comece a se sentir desconfortável. Mesmo que a pessoa que você está conhecendo se voluntarie para buscá-lo, evite entrar em um veículo com alguém que você não conhece e confia, especialmente se for o primeiro encontro. Além do mais, nunca sabemos o que pode se passar. O encontro pode ir mal, vocês podem acabar brigados. Muita coisa pode acontecer. Por isso, certifique-se de saber como voltar para casa e, claro, se o lugar para o qual está indo é seguro.
Faça o download de alguns aplicativos de corridas em seu telefone. Caso um deles não esteja funcionando quando você precisar, você terá um backup. Já deixe tudo configuradinhos: dados de cartão de crédito ou dinheiro no bolso para pagar a corrida ou o ônibus.
7) Verifique a bateria do seu celular, seu plano de minutos e dados de internet.
Não adianta muita coisa você ter um app de corrida, se não consegue usar o celular. Certifique-se de ter dados em seu telefone e de que ele esteja bem carregado ou considere levar seu carregador ou uma bateria portátil com você. Na pior das hipóteses, caso seu celular esteja com pouca bateria, deixe no modo avião ou economia de dados para preservar a carga. Além disso, abra o gerenciador do seu plano de dados, de ligação e internet, para conferir sua situação.
8) Conte para outras pessoas antes de ir ao encontro.
Faça uma captura de tela do perfil da pessoa com quem vai sair e envie para um amigo. Deixe pelo menos um amigo saber onde e quando você planeja ir ao encontro de alguém. Se você continuar seu date em outro lugar que não havia planejado, envie uma mensagem a um amigo para que ele saiba seu novo local. Também pode ser útil mandar uma mensagem de texto ou ligar para um amigo no meio do encontro ou quando você chegar em casa para fazer o check-in.
Quando falamos em encontros, é importante você fazer o que se sentir confortável. Se o outro não respeita isso, provavelmente não é um match pra você.
O importante é você se sentir confortável ao usar os apps de encontro.
De forma alguma esse artigo tem a intenção de te assustar ou que todo encontro se torne uma odisseia de preparativos. Contudo, é importante abordarmos esse tema para que você, pelo menos, tome decisões conscientes. Não vamos ser hipócritas e dizer que tomamos todas as medidas de segurança em apps sempre, mas a informação ainda sim é relevante. Nós aqui da Domo, uma sauna gay em Curitiba, ouvimos diariamente relatos dos nossos clientes. Dessa forma, você estará mais atento quando alguma bandeira vermelha apitar
Se você se sentir desconfortável em algum momento durante o encontro ou mesmo antes dele, não tenha medo de desistir. Você não é obrigado a ficar com alguém se sentir-se desconfortável ou ameaçado. Seja Grindr, Hornet, Tinder ou Badoo, a sua segurança deve ser sua prioridade.
Comenta pra gente: quais atitudes você toma para sua segurança própria?