Por que gays têm medo de envelhecer?

Muitos de nós temos medo de envelhecer: se pudéssemos, muitos parariam o relógio. Isso não é difícil de imaginar, considerando a quantidade de vezes que eu já puvi piada sobre não aumentar a idade quando se faz aniversário, ou chamando uns aos outros de mariconas, cacuras, bicha-velha e afins, quando vamos cruzando marcos da idade. Além disso, botox, preenchimento, harmonização, descolorir o cabelo e outros tratamentos estéticos estão virando regra, e não a exceção, dentro da comunidade gay.

De nenhuma forma quero dizer que isso é exclusivo de homens gays, mas é minha experiência. Parece que isso é um assunto que tem suas particularidades. E, claro, eu acho ótimo que as pessoas queiram cuidar mais de si – mas o que me preocupa é o desespero de tentar evitar o inevitável. Eu recém completei 30 e já consigo ver os efeitos, mesmo que me considere “mais consciente”, ao fazer as mesmas piadas que eu mesmo acabei de criticar aqui.

Vamos tentar entender, juntos, por que gays têm medo de envelhecer, olhando especificamente para nossas vivências. Não vou aqui repetir sobre como a sociedade em si não olha com um bom prospecto para a velhice, enaltecendo a juventude.

Perguntamos em nosso Instagram para vocês sobre os medos de envelhecer sendo gay. As respostas não são muito supreendentes não, mas não menos tristes.


Como enfrentamos e lidamos com isso.

Novamente, este não é apenas um problema gay. Apesar do privilégio que desfrutamos, os homens têm uma probabilidade desproporcional de morrer de suicídio do que as mulheres em uma proporção de cerca de 3 para 1. Alguns associam isso a questões relacionadas à masculinidade: não falar sobre seus sentimentos e ter muito medo ou vergonha de pedir ajuda.

Combine masculinidade tóxica com homofobia (tanto interna quanto externa), e não é surpresa que homens gays sofram de desafios adicionais de saúde mental.

Achei um estudo pequeno, de 2014, feito com 40 homens gays de diversas nacionalidades e raças, no Journal of Language and Social Psychology. Hajek publicou um estudo que introduziu o que ele chama de “teoria fundamentada de gerenciamento de identidade social” (em tradução livre) para os gays de meia-idade que ele entrevistou. Essencialmente um modelo de nossa luta para chegar a um acordo com o envelhecimento.

A teoria é baseada em um processo trabalhoso de revisar todas as respostas dos homens às suas perguntas e “codificá-las” em categorias distintas, usando essas categorias para avaliar tendências amplas.

De acordo com o estudo, os homens entrevistados desenvolveram estratégias específicas para lidar com a juventude “em ameaça” à medida que envelhecem. Enquanto quase todos os homens que entram na meia-idade negaram envelhecer (“Ainda penso em mim mesmo como se tivesse 30 anos”, disse um homem de 47 anos), ainda há aqueles que usam frases de reafirmação da sua nova etapa, como desmerecer hábitos da cultura jovem (uma obsessão por telefone, por exemplo). Eles também atribuem uma vida pós os 40 anos como sendo mais pautada no sucesso do que na aparência.



O processo de envelhecer.

Atingir a meia-idade pode ser difícil. Você percebe que alguns sonhos ou ambições que você manteve provavelmente nunca serão realizados; as grandes ambições de carreira que você tinha podem não se materializar. Inevitavelmente, você começa a perceber que seu corpo não é o que era. Existem algumas maneiras de você lidar com toda essa frustração que pode acontecer com o passar dos anos.

Perguntamos também pro pessoal que nos segue em nosso Instagram sobre quais são os seus medos de envelhecer e, de longe, a resposta mais comum era o medo de ficar sozinho.

Primeiro é entender que os seus sonhos enquanto mais jovem não eram necessariamente atingíveis. Enquanto jovens, temos ambições que, provavelmente impulsionadas pelo efeito Dunning-Kruger, eram irreais com nossas habilidades à época. Ou não criamos um real plano e desvirtuamos do caminho almejado.

O segundo ponto é também aceitar que os nossos corpos vão mudando mesmo. Apesar de os 30 ou 40 anos estarem longe de serem dignos de pena, é importante entender que as coisas serão diferentes de quando tínhamos nossos 20 e poucos anos.

As imagens da mídia concentram-se fortemente nos jovens e nos que estão dentro do padrão. Envelhecer continua sendo um tabu ou, talvez, nem considerado, à parte de discussões como essa: sobre os lados ruins.

Isso tudo contribui para a discrepância em como nos víamos antes e como nos enxergamos agora.



Precisamos de mais modelos e exemplos.

Muito legal toda essa conversa e análise, mas onde estão os modelos gay acima dos 40I? Onde estão os mais velhos para demonstrar que entrar em seus 50, 60 e além não precisa ser visto como triste?

Em vez disso, vivemos em uma cultura em que muitos fingem desesperadamente que não estão envelhecendo. Problemas relacionados à saúde não são discutidos abertamente. Marcamos inclusive consultas com clínicas de estética de forma discreta ou velada para tentar encobrir o fato de os sinais da idade estarem chegando.

Pais e avós heterossexuais fornecem algum tipo de modelo ou modelo para nossos colegas heterossexuais. Ter filhos inevitavelmente reorganiza as prioridades, e eu sei que um número crescente de homens gays está explorando essa opção. Mas quando sou solteiro, sem filhos e gay, em quem eu deveria estar me inspirando para a minha velhice?

Depois, há toda a coisa sobre sexualidade e idade. Quando alguém acima de uma certa idade – hetero ou homo – expressa sua sexualidade – é visto por muitos como assustador ou sem atributos desejáveis. Isso ocorre apesar do fato de que muitos continuam a ter uma vida sexual regular até a velhice.



Como melhorar a nossa experiência enquanto gays:

Os gays simplesmente não têm um modelo de como é o caminho do envelhecimento. Enquanto nossos pares héteros veem sabedoria e moral nas pessoas velhas, para nós os gays de mais idade representam somente a falta da juventude. Olhamos para eles como falta, e não com a capacidade que eles têm de trazer felicidade e alegria para nós.

No entanto, existem muitos homens gays em relacionamentos fortes e amorosos, monogâmicos e poliamorosos, vivendo suas vidas como todo mundo. Eles são muitos gays idosos que têm muita sabedoria para dar aos seus pares mais jovens.

Por isso, gostaria de pedir que vocês seguissem e se encontrassem com mais homens mais velhos e começassem a entender que, um dia, você também chegará lá, portanto, já comece a contribuir para que sua própria vida seja mais significativa.

Para que homens gays com 40 anos ou mais sejam desejáveis, eles precisam ser tirados do rótulo de “daddy”. Enquanto para alguns é excitante, mas para outros é indesejável. É hora de trabalharmos juntos para mudar a cultura gay de uma crítica ao envelhecimento para conexões mais humanas, onde podemos nos abraçar.

Muitos homens gays nunca se sentiram totalmente compreendidos por sua família de origem. Pode ser uma experiência muito solitária. Mas, como adultos, podemos escolher nossa família, e há muitas pessoas prontas para abrir os braços, guiar e amar (não apenas fazer sexo casual).

Similar Posts